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terça-feira, 28 de agosto de 2012


Restos mortais de Dom Helder Câmara são levados à Igreja da Sé


Da Redação, com Rádio Vaticano


Nesta segunda-feira, 27, os restos mortais do arcebispo emérito de Olinda e Recife, Dom Helder Câmara, serão trasladados para uma capela especialmente projetada para recebê-los na Igreja da Sé, em Olinda. Até então, os restos mortais de Dom Hélder estavam guardados em um túmulo provisório em frente ao altar da Igreja da Sé.

O gesto simboliza uma homenagem à memória do arcebispo 13 anos após sua morte. Mais que uma liderança religiosa, Dom Helder era referência na luta pela paz e pela justiça social; seus exemplos e palavras foram perpetuados até hoje.

Junto dos restos mortais, serão colocados também os despojos do Padre Antônio Henrique Pereira Neto e de Dom José Lamartine, ambos amigos do arcebispo. Padre Antônio Henrique foi assessor da Pastoral da Juventude durante o pastoreio de Dom Hélder e Dom José Lamartine, bispo auxiliar. A cerimônia será presidida às 9h pelo Arcebispo de Olinda e Recife, Dom Fernando Saburido.

O trabalho de Dom Hélder é conhecido em todo o mundo. Ele foi arcebispo de Olinda e Recife e também desempenhou funções em organizações não-governamentais, movimentos estudantis e operários, ligas comunitárias contra a fome e a miséria. Sofreu retaliações e perseguições por parte das autoridades do regime militar brasileiro.

A Igreja das Fronteiras, bairro da Boa Vista, ficou cheia de fiéis e emoção na manhã deste domingo, 26. Às 11h, padre Sebastião Sá celebrou missa em homenagem a Dom Hélder Câmara, dando prosseguimento à programação que decorre desde a última sexta-feira, para lembrar o aniversário da morte do arcebispo. O local foi escolhido porque lá Dom Hélder viveu os seus últimos dias, até falecer, em 27 de agosto de 1999.



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Entenda as riquezas do Concílio Vaticano II na vida da Igreja

Jéssica Marçal
Da Redação


Arquivo
'Nós somos chamados a viver e testemunhar o Evangelho e o Concílio nos ajudou e nos ajuda', declarou Dom Armando
Um verdadeiro "fermento de novidades" na Igreja Católica. Um acontecimento que fez a Igreja retomar a consciência sobre o que ela é e qual é sua missão no mundo. Assim foi o Concílio Vaticano II, que completa 50 anos de existência neste Ano da Fé, proclamado pelo Papa Bento XVI para o período de 11 de outubro de 2012 a 24 de novembro de 2013.

Com 16 documentos publicados, o Concílio enfrenta as dimensões do que é ser Igreja, procurando olhar tanto para sua história quanto para o futuro. Isso foi o que explicou o presidente da Comissão Episcopal Pastoral de Liturgia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Armando Bucciol.

Ele destacou que, nas próprias orientações do Papa Bento XVI, é possível perceber que o Concílio Ecumênico Vaticano II representou continuidade e ruptura da vida da Igreja. "Eu aceito sem dúvida, como o Papa insiste, que foi continuidade com a história precedente da Igreja; também em si marca a nossa história eclesial e podemos considerá-lo como o evento que o Espírito Santo gerou com a atuação concreta de pessoas, o evento de maior peso do último século da nossa história".

Em 50 anos, muitas foram as mudanças, de forma que é difícil expressar em poucas palavras tantas alterações. "É todo um movimento de reforma que acontece em diversos âmbitos, começando pela Liturgia, depois no campo do relacionamento da Igreja com o mundo, com as outras religiões. Ousaria dizer que o elemento talvez mais importante é a respeito da Palavra de Deus”, elencou o bispo.

O que levou ao Concílio Vaticano II?

Dom Armando contou que ele era adolescente e estava no seminário quando foi anunciado o Concílio. Ele explicou que a Igreja na época do Papa Pio XII tinha grandes valores e méritos, mas se defendia de um mundo agressor caracterizado pelo materialismo, comunismo e racionalismo. De acordo com o bispo, o sucessor de Pio XII, Papa João XXIII, soube captar os finais dos tempos e compreender a necessidade de mudança na Igreja.

“Ele (Papa João XXIII) percebe que a Igreja deve se abrir, entrar em diálogo, não pode ser uma Igreja fechada e, portanto, eis que propõe o Concílio, como momento de partilha, de busca. Eu acredito mesmo, à luz de tudo aquilo que aconteceu, que foi um grande presente de Deus por meio dos Papas que nossa Igreja recebeu. Com certeza, nesta época em que o Concílio aconteceu, muito coisa precisava ser revista e, com a graça de Deus, isso se deu”.

Documentos
Os frutos que o Concílio trouxe para a Igreja estão organizados em 4 constituições, 3 declarações e 9 decretos. De acordo com Dom Armando, a constituição é algo de peso maior, discorrendo sobre temas como Liturgia, Palavra de Deus e Igreja no mundo contemporâneo, por exemplo. Já os decretos se fundamentam nas constituições, que são as grandes luzes, mas isso não significa que tenham menor valor.

O bispo disse ainda que, nesses documentos, praticamente toda a vida da Igreja é revista à luz da Palavra de Deus, da Tradição e do Magistério. Ele também explicou que o processo para definir uma autocompreensão da Igreja acerca de sua existência e missão envolve o trabalho de comunhão eclesial.

“A Igreja em sua comunhão eclesial, o Papa com todos os bispos, faz uma leitura com a ajuda de um grande número de peritos, assessores, teólogos, que procuram fazer uma revisão nas diferentes dimensões para depois dizer como é que ela se autocompreende e pretende ser em sua caminhada futura”

Ano da Fé: aproveitar as riquezas do Concílio

Diante das riquezas oferecidas pelo Concílio, o bispo acredita ser oportuno retomar os documentos, não ao pé da letra, mas atentando para seus conteúdos essenciais, de forma a captar aquilo que aconteceu no século passado e que ainda hoje precisa ser compreendido.

“Eu mesmo li dezenas de vezes os documentos, sobretudo os que mais mexem com minha competência específica, sobre Liturgia. Nós podemos perceber que quando se lê e relê, estes documentos são grandes luzes, frutos de tantas cabeças a corações”.

Em especial neste Ano da Fé, Dom Armando acredita que o Papa Bento XVI nos convida a termos uma fé mais sólida, mais madura. Para ele, a luz de Cristo deve iluminar todos os tempos, luz esta que se reflete de formas diferentes em diferentes situações.

“Penso que é importante que as novas gerações que não viveram a época conciliar procurem conhecer, com uma leitura atenta, profunda e bem fundamentada desses documentos. Nós somos chamados a viver e testemunhar o Evangelho e o Concílio nos ajudou e nos ajuda.

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Museu dedicado a João Paulo II recebe cópia da Bíblia de Gutenberg


Rádio Vaticano


Arquivo
Página do Antigo Testamento da Bíblia impressa por Gutenberg 
O "Museu das Moedas e Medalhas" dedicado a João Paulo II foi inaugurado em 11 de agosto de 2011, em Czestochowa, na Polônia. Nele podem ser admiradas mais de seis mil medalhas e moedas com a efígie do Papa polonês.

Agora, a coleção foi enriquecida com uma cópia da Bíblia Gutenberg de Pelplin. O tomo, impresso nos anos 1452-1455, é um dos 19 exemplares sobrevividos até os nossos dias. À distância de um ano da abertura, o fundador e diretor do Museu, Krzysztof Witkowski, disse ter a alegria do fato de a coleção conservar agora "uma tão especial cópia da Bíblia".

"O exemplar que se encontra em nossa coleção – afirma ainda Witkowski – é diferente de todas as cópias feitas precedentemente. Os impressos e cópias que pareciam novos foram feitos por franceses e alemães. A cópia de que dispomos é totalmente original: impressão em relevo, manhas de umidade e até mesmo o caractere do tempo."

"Trata-se de uma cópia que contém todos os traços de sujo e aquilo que é deixado pela passagem do tempo. A cópia da nossa coleção é numerada com o número 5", ressaltou. A cópia da impressão da Bíblia de Gutenberg foi doada ao Papa João Paulo II em 2003.


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Paris recebe réplica da estátua do Cristo Rendentor


Rádio Vaticano


Uma réplica da estátua do Cristo Redentor será exibida nesta quarta-feira, 29, diante da Catedral de Notre Dame, em Paris, no âmbito da preparação para a Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro, em julho de 2013. Milhões de jovens estão sendo esperados para essa Jornada que se realizará entre os dias 23 e 28 de julho, com a presença do Papa Bento XVI.

A réplica da estátua tem 3,8 m de altura e 3 m de largura e foi esculpida pelo artista plástico Odilon Lima e artesãos das escolas de samba do Rio de Janeiro. Ela será apresentada no final da tarde desta quarta-feira no final de uma missa na Catedral de Notre Dame, segundo comunicado divulgado pelo Consulado da França no Rio.

“Cristo de braços abertos é o maior símbolo do Rio de Janeiro e vai ao encontro de turistas, peregrinos, de todas as culturas e de todos os países e que mostra que o Rio é uma cidade aberta e acolhedora”, disse o reitor do Santuário “Cristo Redentor”, padre Omar Raposo, em um comunicado.

A estátua do Cristo Redentor, que comemorou seus 80 anos em 12 de outubro de 2011, foi nomeada “Embaixadora da JMJ”. Além da apresentação da réplica, uma exposição conta a história do monumento símbolo mais visitado do Rio e do Brasil. Folhetos em várias línguas serão distribuídos ao público na capital francesa.

A réplica da estátua, eleita sétima maravilha do mundo moderno, então será doada para a cidade de Paris como “um símbolo da paz”.

Várias réplicas da estátua e exposições deverão percorrer os quatro cantos do mundo. A Cidade do Vaticano foi a primeira a receber a réplica no mês de abril. Depois de Paris, será Toronto (Canadá), no dia 16 de setembro, Tóquio (Japão) em 28 de setembro e Maputo (Moçambique), em 10 de outubro.

A JMJ do Rio será a segunda Jornada a ser realizada na América Latina, 26 anos após a de Buenos Aires, que teve a presença de João Paulo II.



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O CONCÍLIO VATICANO II

Com a aproximação do grande momento de celebrarmos o cinquetenário do Concílio Vaticano II iniciaremos a publicação de uma série de matérias sobre o referido concilio  e iniciamos com um artigo científico do Sr  Estevão Raschietti. Exluimos do artigo as citações para tornar a leitura mais célere uma vez que o público que pretendemos atingir não é o dos estudiosos, mas sim da grande massa que pouco ou nada sabe sobre o Concílio. Para os interessados ao final fornecemos a fonte completa onde poderão conferir as referências. Vamos ao artigo:


Qual o motivo de tanto descaso com um dos eventos mais importantes da história da igreja e da humanidade do século XX ? Esquecimento, falta de memória histórica, a rotina cotidiana que nos impede de lembrar de certos acontecimentos? Ou omissão proposital, apagão induzido na consciência eclesial, véu de piedoso silêncio sobre um possível “erro” histórico que tanto estrago causou na cristandade às vésperas do terceiro milênio?
Tenha a certeza o leitor, que setores influentes na igreja estão trabalhando afinco nesta segunda perspectiva. No entanto, quem mais deveria zelar pelo patrimônio do concílio, as CEBs, as pastorais, os movimentos leigos, etc. – todos filhos e filhas do Vaticano II –, não parecem mostrar o mesmo ânimo no resgate, na reflexão e na celebração de sua caminhada e de sua identidade. Isso gera uma certa preocupação e um pouco de compadecimento.
Lembrar hoje da importância do Concílio Ecumênico Vaticano II não representa um saudosismo facultativo, nem uma pretensão triunfalista. Ao contrário, diz respeito a um compromisso essencial e profético dos cristãos diante do mundo de hoje. Afinal, foi com o Vaticano II que a Igreja Católica inaugurou uma época de transição de uma cristandade fechada e autocomplacente para uma igreja mundial e missionária. Ao menos que não queiramos voltar atrás, sair da inércia e da omissão em relação à herança conciliar significa sobretudo redescobrir uma disposição fundamental de  espírito e atitudes para encarar os desafios que estão à nossa frente.
Para alcançarmos este objetivo, é necessário olhar para o Vaticano II através de uma perspectiva hermenêutica que convida a compreende-lo como evento e não apenas como uma soma de decisões e de textos produzidos: sua gestação, seus bastidores, o profundo anseio de busca e de diálogo de seus protagonistas, a carga de renovação, as temáticas de sua agenda, etc.
O nosso percurso, portanto, será voltado a evidenciar algumas chaves de leitura a partir do entendimento do concílio como evento no seu conjunto, enfatizando sua abertura missionária e universal, particularmente em sua inspiração inicial, em sua identidade, nas instâncias principais que animaram os debates de suas sessões.


O SURGIMENTO DA IDÉIA DE CONVOCAR UM CONCÍLIO.





“Pronuncio perante vós, certamente tremendo um pouco de emoção, mas também com humilde firmeza de intenção, o nome das duas celebrações: um Sínodo diocesano para a cidade de Roma e um Concílio geral para a Igreja Universal”. Com estas palavras, em 25 de janeiro de 1959, Papa João XXIII anunciava a decisão de convocar um concílio para a Igreja, a menos de noventa dias após sua eleição como sucessor de Pio XII.
O que foi logo definido como “um gesto de tranqüila audácia” aconteceu no decorrer de uma breve alocução dirigida a um pequeno grupo de cardeais, reunidos por ocasião da conclusão da semana de orações pela unidade dos cristãos, na basílica de São Paulo fora dos muros, em Roma.
A surpresa e a desorientação curial diante desse anúncio emocionado, mas ao mesmo tempo determinado, feito por um papa de transição, eram fatores destinados, desde o começo, a compor o quadro de impacto extraordinário e universal para a Igreja e para o mundo.
A hermenêutica jurídica presta atenção à “vontade do legislador” para a interpretação correta das normas. Em relação ao concílio, tal referência é dada pela vontade “soberana” do papa que o concebeu, o convocou e conduziu os trabalhos da primeira fase. A “vontade do legislador” constitui, portanto, um primeiro critério para entender o significado global do Vaticano II. Ao abrir os trabalhos conciliares, João XXIII afirmaria que a idéia do concílio fora “um lampejo de luz suprema”, e o “florir elementar e imprevisto em nosso coração e de nossos lábios da palavra singela «concílio ecumênico»”. Numa anotação no seu Diário da alma de 20 de janeiro de 1959 afirma “sem termos pensado antes”. Contudo, essa iluminação pessoal e imprevista, “uma decisão livre e independente como talvez jamais se tenha verificado na história dos concílios ecumênicos”, foi, de fato, fruto de uma convicção lentamente sedimentada no espírito do “papa bom” e no espírito da época.
“Sem dúvida, a convocação do concílio se beneficia do otimismo econômico,político e cultural geral. Procurar-se-iam em vão laços mais estreitos: é preciso se contentar com afirmar, e não é pouco, que a decisão pontifícia parece convergente, em sua vontade de união e abertura, com uma das tendências maiores de sua época, tendência que ela vai contribuir vigorosamente para reforçar”.



OS EIXOS PRINCIPAIS DO VATICANO II


“A sua razão de ser [do Concílio Vaticano II] é a continuação, ou melhor a retomada mais enérgica da resposta do mundo inteiro, do mundo moderno ao testamento do Senhor, formulado naquelas palavras pronunciadas com divina solenidade, as mãos estendidas rumo aos confins do mundo: «Euntes ergo docete omnes gentes»”. Estas palavras da mensagem radiofônica de João XXIII, um mês antes da solene abertura do Vaticano II, deram, depois de um longo e conturbado período de preparação, uma clara orientação aos trabalhos conciliares. O grande mandato de Mateus torna-se um dos lemas do evento, o trecho bíblico mais citado em suas variadas formas nos documentos finais.
O cardeal belga Leo Jozef Suenens, umas das figuras chaves do concílio, dirá que “essas palavras constituem os próprios temas do plano”. Meses antes, Suenens apresentara ao papa uma nota, revelando preocupações em relação aos trabalhos preparatórios, obtendo dele a permissão de aprontar um plano mais coerente para a realização do concílio. Esta proposta foi exposta a um grupo seleto de cardeais que a apoiaram calorosamente.
O esquema de Suenens acabou inspirando a mensagem radiofônica, dando expressão à mais genuína visão do papa sobre o concílio. Esta mensagem, obra originalíssima de Roncalli, representa um imediato contraponto à rigidez teológica e dogmática dos textos que surgiram das comissões preparatórias. Praticamente, delineia a identidade, o objetivo, a razão do Vaticano II. Dando continuidade às palavras de Mateus 28,16-20, ele traça dois grandes eixos sobre os quais devem tomar forma os trabalhos conciliares. O primeiro, o eixo ad intra, de caráter ogmático, sobre a realidade e a  natureza da Igreja “qual ela é”. O segundo, o eixo ad extra, de caráter pastoral, sobre a missão da Igreja diante “as exigências e as necessidades dos povos”.


O aggiornamento


Em relação ao primeiro, papa João lança a expressão aggiornamento, destinada a tornar-se um dos principais relevos hermenêuticos de todo evento conciliar, apesar da dificuldade de sua rigorosa determinação conceitual. As comissões preparatórias elaboraram textos nos quais transpareciam uma disposição apologética bastante contrastante com a visão inicial do papa. Duras críticas ao trabalho preparatório foram levantadas por figuras importantes como König e Suenens. O mesmo João XXIII tomou decisões que suscitaram certas perplexidades ao confiar, por exemplo, aos chefes curiais a presidência das comissões, ao aprovar conjuntos de quaestiones que pouco refletiam sua visão e ao exaltar o latim como língua oficial do concílio. Certas ações de Roncalli ainda permanecem um mistério. Parece que ele optou por uma abrangência e uma liberdade na fase preparatória que levaria os próprios padres conciliares a decidirem a linha do concílio. Os bispos do Vaticano II, logo na primeira sessão, sentiram necessário repudiar bastante coisa do trabalho feito para prepará-lo.

O jovem teólogo Ratinzer estava lá


Com essa visão otimista, o aggiornamento ad intra não propõe propriamente uma reforma da Igreja, mas uma nova postura de busca e de abertura em continuidade transformação entre a tradição e a novidade, diante dos desafios mundiais dos novos tempos.  “Não uma reforma institucional, nem uma modificação doutrinal, mas uma imersão total na tradição finalizada a um rejuvenescimento da vida cristã e da Igreja. Uma fórmula em que a fidelidade à Tradição e a renovação profética convocado em Roma o primeiro congresso internacional dos religiosos, que tinha como finalidade “a «accommodata renovatio», ou seja, em vulgar, o «aggiornamento»” das ordens e congregações, segundo o cardeal Piazza, La documentation catholique, 31 de dezembro de 1950. Torna-se difícil, portanto, um levantamento sistemático do uso desta palavra nos documentos do Vaticano II. Contudo, aparece bastante delineado o conceito de aggiornamento a respeito da liturgia (SC 21; 43), da vida religiosa e de sua missão (PC 2; 7; 16; 20), da pastoral (OT 22), dos seminários (OT 3), etc. Nesse sentido, o aggiornamento leva a caracterizar o Vaticano II como um concílio eclesiológico, um “concílio da Igreja sobre a Igreja” – segundo uma célebre expressão de Rahner –, um marco profundamente identitário, retomado com maior força por Paulo VI no Discurso de Abertura da II Sessão, que se desenvolve quase paradoxalmente não numa atitude introspectiva e autocomplacente, mas numa linha de abertura ao mundo e de reconhecimento dos outros.


A pastoralidade


Estritamente ligado ao motivo ad intra, está, portanto, o eixo ad extra que caracteriza o evento-concílio por outra dimensão fundamental: a pastoralidade. Tal característica atravessa todo o percurso biográfico de Roncalli como um marco constante. Durante sua coroação como papa, acentuou seu compromisso de ser um bom pastor, segundo a imagem do décimo capítulo do evangelho de João, acrescentando que: “as outras qualidades humanas, a ciência, a percepção, o tato diplomático e as qualidades organizativas podem se transformar num fato que complementaria um governo pontifical, mas de alguma forma podem substituir a função de pastor”.
Com o anúncio de um concílio para a Igreja universal, ele convoca “um Sínodo diocesano para a Igreja de Roma” porque sentia-se, não só simbolicamente mas autenticamente, bispo de Roma. Ele fez várias visitas pastorais às paróquias da cidade, rompendo a habitual separação e clausura do papa no Vaticano, recolhendo um amplo, convergente e decisivo consenso na opinião pública. Assim, João XXIII deu expressão à tensão universalidade-contextualidade própria de seu ministério, fazendo dele um espírito mundialmente aberto aos desafios da humanidade, mas ao mesmo tempo atento e atuante, com o pé no chão, na sua realidade contextual.



Orecém falecido Cardeal Sales também esteve presente


Pastoral é a palavra-chave da eclesiologia de Roncalli. Junto ao aggiornamento ocupa um lugar na alocução que anuncia o concílio, quando ele o põe na “única perspectiva do bonum animorum e de uma correspondência bem clara e precisa do novo pontificado com as exigências espirituais da hora presente”. De maneira definitiva e inequívoca, na Gaudet Mater Ecclesia, João XXIII fala da necessidade de apresentar a doutrina “de modo que responda às exigências do nosso tempo. Uma coisa é de fato o depósito da fé , outra é a forma com a qual [as verdades] são proclamadas”. A preocupação do concílio não deve ser, portanto, “a discussão deste ou daquele tema da doutrina fundamental da Igreja”, mas a linguagem (“a forma”) de como esta doutrina deve ser apresentada: “Precisará atribuir muita importância a esta forma e, se for necessário, precisará insistir com paciência em sua elaboração: e se deverá recorrer a uma maneira de apresentar as coisas, que mais corresponda ao magistério, o caráter do qual é preeminentemente pastoral”. Segundo o papa, “agora a esposa de Cristo prefere usar o remédio da misericórdia àquele da severidade”. E ainda: “ela julga atender às necessidades de hoje, mostrando a validade de sua doutrina mais que renovando condenações”. Um espírito abertamente em contraste com o Syllabus de Pio IX, onde aparece como grave erro o fato de achar que “o Pontífice Romano pode e deve reconciliar-se e transigir com o progresso, com o liberalismo e com a recente civilização”. Pode-se perguntar em que medida essa postura pastoral de João XXIII tenha sido um aspecto da necessidade de superar a exasperada tensão que veio se criando ao redor do significado e do valor da “doutrina”, e conseqüentemente da disciplina, por ocasião da polêmica modernista. Todavia, com certeza, para o papa, a consideração da história, em sua relação com o Evangelho e com a doutrina cristã, é de relevância prioritária.

Nosso grande articulador Dom Hélder Câmara


Inseria-se assim a conotação pastoral no próprio âmago da dimensão doutrinal do cristianismo, como exigência inerente à doutrina para que se leve em conta a sua substância no tempo: pastoral como hermenêutica histórica da verdade cristã”. Nesse sentido o Vaticano II, em sua pastoralidade, foi logo entendido como um concílio totalmente novo, como afirma dom Boaventura Kloppenburg: “O Vaticano II é sobretudo um concílio que se distingue muito mais pelo espírito, que pelas novas explicitações da doutrina cristã (…) o especificamente novo e importante do XXI Concílio ecumênico está na sua atitude pastoral, ecumênica e missionária perante o mundo de hoje. O Vaticano II é sobretudo um Concílio com novos acentos e novas palavras sublinhadas. Sublinhar uma palavra ou uma frase é sem dúvida um ato subjetivo, condicionado por situações e circunstâncias. Mudança de acento não significa nem implica alteração na doutrina. O acento é acidental, mas – convém insistir – é precisamente o acidente que dá o colorido e o estilo”. Contudo, não faltam nos textos finais do Vaticano II, como não deixa de relevar o mesmo Kloppenburg, importantes explicitações doutrinais. Permanece o fato de que o concílio está mais preocupado com a transmissão da doutrina cristã do que com o seu estrito conteúdo. Ao jornalista que lhe perguntou sobre o que esperava do Vaticano II, João XXIII respondeu que não sabia muito bem. Porém, abrindo a janela, acrescentou: “pelo menos ar fresco”. Há tempo, muitas instâncias esperavam ser acolhidas como “ar fresco” pela Igreja de Roma. Particularmente, os fermentos surgidos na teologia da Europa central, depois do vendaval antimodernista, com as novas experiências apostólicas em sociedades mais industrializadas (Chenu, Thils, Philips), o confronto com a teologia protestante, a migração russa e as instâncias ecumênicas (Beauduin, Congar), os estímulos recebidos por algumas correntes filosóficas (Rahner, Schillebeeckx), a evolução da exegese bíblica e a redescoberta das fontes cristãs (Cerfaux, De Lubac), foram abrindo caminhos criativos para a reflexão cristã-católica no seio de sociedades sempre mais secularizadas.
José Comblin, numa nota autobiográfica, faz estas considerações:
“Estudei em Lovaina. Quer dizer que o Vaticano II não foi novidade para mim. Era o que tínhamos aprendido quinze anos antes. A novidade foi que a hierarquia começou a dizer o que pensávamos quinze anos antes. Isso nunca tínhamos imaginado. De minha parte, tinha colaborado várias vezes com o cardeal Suenens, que foi o articulador principal do Vaticano II”.
Começam a convergir, depois do anúncio de janeiro de 1959, grandes expectativas a respeito do concílio, que encontrarão uma certa expressão nos textos e nas decisões finais. Quatro podem ser considerados como pontos cruciais das instâncias que chegaram e que ganharam destaque no foro conciliar: a centralidade da palavra de Deus e do mistério trinitário, uma nova concepção da Igreja, a questão ecumênica e os sinais dos tempos.


A dimensão mistérica
O hoje bispo de Jales Dom Demétrio então seminarista também estava lá.





A primeira instância retoma com força a dimensão mistérica da mensagem cristã na forte acepção bíblica de uma revelação meta-racional, conhecível somente em partes por meio de aproximações parciais, entre elas complementares e não exclusivas. Essa postura, que perpassa toda a celebração do Vaticano II e os textos de suas decisões, implica conseqüências de certo porte para uma concepção da “verdade” como complexo orgânico de proposições dogmáticas. De fato, a hegemonia da impostação metafísica, que se afirmou com o influxo da cultura helenista, conferiu uma importância sempre maior à “verdade”, entendida como conjunto abstrato e atemporal de conceitos, medida definitiva para a comunhão eclesial. A perspectiva bíblica, ao contrário, mostra a verdade cristã como mistério trinitário revelado na pessoa de Jesus e narrado pela tradição, um mistério vivo, inexaurível e recapitulador de toda a economia salvífica, que convoca para uma adesão e um seguimento incondicional. “O caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6) é, portanto, a pessoa de Jesus em toda a espessura de seu mistério e não mais certa coerênciaconceitual de formulações doutrinais.



A natureza da Igreja


A opção metodológica pelo mystêrion, no resgate paulino de uma realidade concreta de salvação, aplica-se também à natureza da Igreja, concebida agora como “sacramento” e não mais, primariamente, como instituição. A nova perspectiva vai além de um superamento de uma visão “essencialista” da Igreja como sociedade perfeita, para apelar, antes de mais nada, para as dimensões profundas de fé que a constituem. O ponto de partida da Lumen Gentium não podia ser mais explícito nesse sentido, com um primeiro capítulo inteiramente dedicado ao “mistério da Igreja” em sua fundamentação bíblica e trinitária, marcando o passo para uma virada eclesiológica. “A prevalência de uma temática de tipo bem mais horizontal na eclesiologia remonta quase sempre ao ponto de partida adotado por ela de fora para dentro, quer dizer, de sua realidade institucional ao mistério de vida sobrenatural que manifesta e comunica, entretanto, quando se parte de dentro para fora se insiste na realidade mistérica da Igreja”.
De dentro para fora: um enfoque missionário de abertura contra uma tensão introspectiva de fechamento; uma verticalização entre alturas últimas e últimas profundezas contra o achatamento horizontal das instituições históricas. A instância de ultrapassar o eclesiocentrismo ganha uma expressão decisiva em prol da redescoberta de outras dimensões fundamentais da vida cristã. A fé, a comunhão e o serviço tornam-se agora os critérios-guia de pertença eclesial, no lugar da lógica interna das instituições eclesiásticas. A aplicação da realidade bíblica do “povo de Deus” à Igreja supera a cristalização de uma concepção monolítica apresentando uma dinâmica de um povo a caminho e em contínuo aggiornamento diante do mistério de sua vocação. Ganham espaço temas como o sacerdócio comum, o sensus fidelium e a comunhão entre igrejas, todos aspectos que levam a uma profunda contemplação do mistério da Igreja para uma expressão histórica radicalmente renovada.



O ecumenismo


Uma terceira instância que caracteriza o evento conciliar desde seus alvores e em suas íntimas entranhas, é a ecumenicidade. Na redação oficial do primeiro anúncio de janeiro de 1959, pronunciado não por acaso na conclusão da semana de orações pela unidade dos cristãos, já se fala de “concílio ecumênico” que quer ser “um convite às comunidades separadas para a busca da unidade, pela qual tantas almas hoje anelam de todas as partes da terra”.No primeiro comentário oficioso, L’Osservatore Romano escreve que o concílio não seria o “concílio do medo” mas o “concílio da unidade”. Na Ad Petri Cathedram, João XXIII afirma que o concílio “sem dúvida, constituirá maravilhoso espetáculo de verdade, unidade, e caridade; espetáculo que, ao ser contemplado pelos que vivem separados desta Sé Apostólica, os convidará, como esperamos, a buscar e conseguir a unidade pela qual Cristo dirigiu ao Pai do Céu a sua fervorosa oração”.
E fazendo referência praticamente explícita ao Conselho Mundial de Igrejas, continua: “Sabemos, além disso, que a maior parte dos cristãos, ainda que separados de nós e entre si, têm realizado congressos e organizado conselhos para se unirem: isto mostra o veemente desejo que os impele a chegarem ao menos a certa unidade”. Percebendo a forte instância dos tempos, Roncalli cria, por sua vez, em março de 1960, o Secretariado para a União dos cristãos, confiando-o ao cardeal Bea e tirando-o das competências do Santo Ofício. Enfim, representantes de outras igrejas são convidados a participar do Vaticano II como observadores. Suas intervenções através do Secretariado para a União foram significativas e incisivas.
A dimensão ecumênica foi aquela que, desde o começo, causou as maiores reações e resistência por parte da cúria romana. Mas para João XXIII, esta questão conjugava-se substancialmente com sua postura pastoral e com seu apelo incessante para a unidade da família humana. Paulo VI, por sua vez, dará ao ecumenismo o caráter de universalidade, pelo menos em duas ocasiões em seus discursos oficiais.



O diálogo com o mundo moderno


O último aspecto representa, sem dúvida, a quarta e mais significativa instância que ganha destaque com a celebração do Vaticano II. A urgência e a profunda disposição a querer dialogar com o mundo moderno, é o grande pano de fundo e a principal motivação interior do concílio. Desde sua convocação oficial, em dezembro de 1961 com a Humanae salutis, João XXIII chama à atenção para uma humanidade no limiar de uma nova era. As conquistas no campo técnico e científico prometem “um grande progresso material ao qual não corresponde um igual avanço em campo moral”. Mas isso leva as pessoas a “tornarem-se pensativas, mais cientes de seus limites, desejosas de paz, atentas à importância dos valores espirituais”, e acelera “aquele processo de estrita colaboração e recíproca interação entre indivíduos, classes e nações (…) Tudo isso facilita sem dúvidas o apostolado da Igreja”. Para o papa, esse é um “sinal dos tempos”. Esse conceito, que faz sua entrada oficial na teologia católica com a Humanae Salutis, ganha expressão decisiva com a Pacem in Terris e torna-se uma das palavraschaves do magistério de João XXIII. O concílio, por sua vez, retoma-o quatro vezes em seus documentos finais, embora como tal reapareça mais vezes.




A transição: um conclave dentro de um concílio


A expressão “sinais dos tempos” tem um sentido positivo de esperança e quer explicitamente corrigir uma visão pessimista diante do mundo moderno, a dos “profetas de desgraças”, dominante na tradição católica, pelo menos desde a encíclica Mirari vos (1832), de Gregório XVI. Não é uma categoria meramente sociológica mas, principalmente, históricoteológica. Ela ocorre na Escritura uma só vez, em Mt 16,3, para indicar os sinais da era messiânica, ou seja, as palavras e os atos de Jesus de Nazaré. Na passagem paralela de Lc 12,56 aparece o termo kairós, o tempo qualificado em que é oferecida ao gênero humano a graça de Deus. O seu significado é, portanto, cristológico e escatológico:  “De certo modo, o único sinal dos tempos é o próprio Cristo. A partir daí e da presença da Igreja mediante o seu Espírito, mas também em toda a criação, pode-se documentar como no Novo Testamento este kairós, este momento oportuno da graça, percorre a história de ponta a ponta até a última vinda e a reconciliação final de todas as coisas”. A história torna-se assim um locus theologicus privilegiado, uma epifania de Deus, não só no passado narrado, mas sobretudo no tempo presente, graças à tomada de consciência coletiva de “sinais dos tempos” que nos indicam para onde “a Providência está nos conduzindo”.Na Pacem in terris, Roncalli fala de três “sinais dos tempos” que caracterizam a época moderna: a ascensão econômico-social das classes trabalhadoras, a entrada da mulher na vida pública e a igualdade entre todos os povos. Mas é a este último aspecto que dedica praticamente toda a encíclica, assim como, ao convocar o concílio, insiste particularmente sobre a paz, a justiça e a fraternidade na humanidade mundial. A mensagem dos padres ao mundo, na abertura do concílio, retomaria com vigor pontual esses aspectos. E Paulo VI, de volta da viagem à ONU, em Nova Iorque, dirá que o concílio é a contribuição da Igreja para a paz universal. Para o idealizador do Vaticano II, a questão social, refletida no desejo de paz e de justiça para todos, e sua dimensão universal representam, respectivamente, o grandetema da agenda conciliar e o eixo central ao redor do qual confluem as outras instâncias ad intra e ad extra, e tomam forma o aggiornamento e o compromisso apostólico da Igreja. Uma nova ordem mundial constitui, em síntese, o principal dos “sinais dos tempos”: um sinal providencial de esperança “quae Ecclesiae humanoque generi melioris aevi videntur auspicia portendere”.
CONCLUSÃO
Num discurso pronunciado em 1979, Karl Rahner abordou a questão de uma “interpretação teológica fundamental do Vaticano II”, entendendo por “fundalmental” “não induzida por fora, mas sugerida pelo próprio concílio”. Para o teólogo alemão, a realização desse evento representa a primeira autoafirmação oficial de uma Igreja mundial (world church) que se prepara a migrar de umâmbito culturalmente ocidental-europeu para um âmbito planetário. Rahner fala dessa passagem em termos de “nova cesura, ao par daquela que houve na passagem do cristianismo judaico ao cristianismo dos gentios”.
Neste sentido, outros estudiosos propõem de estender ao Vaticano II a caracterização de transição, aplicada originariamente ao pontificado de João XXIII. Desta vez, porém, num sentido forte: ou seja, no que diz respeito à saída da Igreja da época tridentina para o começo de uma nova estação. O concílio seria neste caso um ponto de não retorno, uma chegada e um novo ponto de partida, um “evento” mais que um foro de elaboração e produção de normas.

A restauração do diaconato permanente,a missa na língua vernácula,a maior participação dos leigos são heranças fantásticas deste concilio.
Sem dúvida o Concílio Vaticano II foi um evento profeticamente universal e profundamente missionário diante dos desafios mundiais da humanidade, às vésperas do novo milênio. Em primeiro lugar, o concílio foi um evento universal. Foi o mais ecumênico da história da Igreja, com um total 3054 padres conciliares. O primeiro concílio ecumênico, o de Nicéia, em 325, foi tradicionalmente chamado de “o grande e santo sínodo dos 318 padres”. O Vaticano I, o último e o mais numeroso até então, contara somente com 642 prelados.
O “espetáculo de universalidade” dos bispos vindos de todas as partes do mundo, na aula conciliar, já falava por si, ainda se repleto de um certo triufalismo. Não tardará, porém, a mostrar seu rosto profético num concílio que não foi só a maior assembléia deliberante talvez jamais vista na história, mas também um foro universal particularmente atento aos problemas da humanidade e pelo qual a humanidade demonstrou tão interesse. Sem dúvida, uma das críticas mais procedentes revela que o Vaticano II foi um concílio ainda demasiadamente ocidental, marcado por um otimismo ingênuo e paternalista. De fato, exalta e prioriza o confronto entre grandes sujeitos universais como Igreja e mundo, na onda desenvolvimentista dos anos 60, esquecendo um pouco os sujeitos intermédios (povos, culturas, grupos humanos). Contudo, estes agora existem, de alguma forma aparecem, reclamam e começam a fazer ouvir a própria voz. Medellín constituirá a primeira consistente configuração de uma Igreja não-européia. Dali em diante terá uma efervescência extraordinária de afirmações identitárias, flores e frutos do grande impulso e do genuíno espírito conciliar. Em sua universalidade, o Concílio Vaticano II foi um evento missionário. Todos os aspectos mostrados até aqui apontam para uma decidida e inequívoca tensão missionária.
Será Paulo VI que dará à caracterização pastoral de João XXIII a conotação de missionária. Em seu programático discurso de abertura do segundo período conciliar, em 29 de setembro de 1963, ele afirma: “Enquanto a Igreja procura animar a sua vitalidade interior no Espírito do Senhor, distingue-se e separa-se da sociedade profana, na qual está imersa, qualificandose, ao mesmo tempo, como fermento vivificante e instrumento de salvação do mundo, e descobrindo e fortalecendo a sua vocação missionária, que é a sua essencial destinação: fazer da humanidade, em qualquer condição ela se encontre, o objeto de sua apaixonada missão evangelizadora”. Esta é a postura de Giuseppe Alberigo e dos outros estudiosos que deram origem à redação de uma história do Vaticano II. Estes autores defendem o fato de que essa era a vontade de João XXIII: criar um evento.
Assim o chamará Paulo VI, em seu discurso de abertura do segundo período.  “A todos os homens foi dirigido o convite pastoral e missionário à luz evangélica” dirá Paulo VI na homilia conclusiva da IX Sessão.  Se, de um lado, o Vaticano II caracteriza-se fundamentalmente, graças ainda a Paulo VI, como um concílio eclesiológico, no qual a Igreja “declara o que ela pensa de si própria”, por outro, será este mesmo papa que lembrará que não se trata de uma “introspecção voltada para si mesma”, que “a Igreja é para o mundo”, que “a religião católica é para a humanidade” e que “o Concílio é um ato solene de amor para a humanidade”. Na Ecclesiam Suam, sua primeira encíclica, papa Montini faz uma incisiva declaração: “Se a Igreja, como dizíamos, tem consciência do que o Senhor quer que ela seja, surge nela uma plenitude única e a necessidade de efusão, adverte claramente uma missão que a transcende e um anúncio que deve espalhar. É o dever da evangelização, é o mandato missionário, é o dever de apostolado (…) Dever seu, inerente ao patrimônio recebido de Cristo, é também a difusão, a oferta, o anúncio: «Ide, pois, ensinar todos os povos» (Mt 28,19). Foi a última ordem de Cristo aos seus Apóstolos. Estes, já com o simples nome de  própria missão indeclinável. A este interior impulso da caridade, que tende a fazer-se dom exterior, daremos o nome, hoje comum, de diálogo”. A Igreja encontra a sua verdadeira identidade na missão. A identidade não é apenas “firme condição para uma abertura” mas é também conseqüência de uma abertura missionária, como afirmam os bispos do Brasil no memorável documento Igreja: comunhão e missão. Dimensão ad intra e dimensão ad extra estão, portanto, intimamente interconexas. Mas é claramente a tensão ad extra, de dentro para fora, a dar o impulso decisivo ao concílio. De fato, o Vaticano II não foi um concílio missionário no sentido que se debruçou sobre questões missiológicas específicas e teve conseqüências práticas, imediatas e precisas na atividade missionária ad gentes. O concílio foi um evento missionário, totalmente embebido de uma tensão ad extra, no sentido que deslocou a Igreja para um profundo estado de missão universal.
Não será mais uma missão permeada pelo espírito de conquista, mas no esforço de “colocar em contato com as energias vivificadoras e perenes do Evangelho o mundo moderno” (João XXIII), “a Igreja olha para ele [o mundo] com profunda compreensão, com sincera admiração e com franco propósito de não o conquistar, mas de valorizá-lo; não de condená-lo, mas de confortá-lo e de salvá-lo” (Paulo VI).
A luz dos povos é Cristo, começa assim a Lumen Gentium (LG) que define o que é que é a Igreja. Esta Igreja tem algo a dizer a todo o mundo, Gaudium et Spes (GS), que as alegrias e esperanças, tristezas e angústias do mundo, sobretudo dos que sofrem, encontram eco no coração de Cristo. Entre as invenções maravilhosas da técnica  Inter mirifica salienta a importância dos meios de comunicação social num sentido de progresso de toda a sociedade humana.
As transformações mais visíveis foram as que se deram na Liturgia Sacrosanctum Concilium (SC), e a mais conhecida de todos é que a missa pode ser celebrada em todas as línguas e não só em Latim. A educação é de gravíssima importância Gravissimum Educationis (GE) e também é a formação sacerdotal, dos padres, Optatam Totius (OT).
Os fiéis encontram-se em diversos estados de serviço, padres, freiras e irmãos, bispos e leigos alguns deles consagrados. Há para eles também documentos específicos, o Cristus Dominus (CD) acerca do serviço dos bispos, na sua diocese e fora dela. O Presbyterorum Ordinis (PO) acerca do serviço (ministério) e a vida dos presbíteros (padres). Há fiéis que se consagram a Deus e vivem de diversos modos segundo o instituto em que professam os votos, embora muito diversificados, a sua vida religiosa deve sempre ser convenientemente renovada, segundo o Perfectae Caritatis (PC). Os restantes fiéis, que são a maioria, também chamados simplesmente de leigos, têm um apostolado Apostolicam Actuositatem (AA) muito importante na igreja.
Deus foi revelando-se ao Homem e deu a conhecer o mistério da sua vontade. Em Cristo Jesus deu-se a plenitude da revelação, a Palavra de Deus Dei Verbum feita carne. Esta revelação é para toda a humanidade Ad Gentes (AG) e por isso não pode ser calada no coração daqueles que por a terem ouvido a anunciam. A liberdade religiosa é resposta do homem que é digno Dignitatis Humanae de responder a Deus. Nesse caminho de encontro com o divino há cristãos e não cristãos Nostra Aetate.
A Igreja católica também se encontra diversificada no oriente Orientalium Ecclesiarum (OE), e um dos principais propósitos do Concílio Vaticano II é a promoção da unidade entre todos os cristãos Unitatis Redintegratio; o ecumenismo.

Fonte:Disponível em http://paroquiadapiedade.com.br/formacao/concilio-vaticano-ii/o-concilio-vaticano-ii-como-evento-universal-e-missionario/ acessado em 11de agosto as 09 horas  – Artigo de Estevão Raschietti
Concílio Ecumênico Vaticano II
Constituições
DV – Constituição Dogmática Dei Verbum sobre a Revelação Divina.
LG – Constituição Dogmática Lumen Gentium sobre a Igreja
GS – Constituição pastoral Gaudium et Spes sobre a Igreja no mundo atual.
SC – Constituição Sacrosanctum Concilium sobre a sagrada Liturgia

Decretos
AA – Decreto Apostolicam Actuositatem sobre o apostolado dos leigos.
AG – Decreto Ad Gentes sobre a actividade missionária da Igreja.
CD – Decreto Cristus Dominus sobre o múnus pastoral dos Bispos na Igreja.
IM – Decreto Inter Mirifica sobre os meios de comunicação social.
OE – Decreto Orientalium Ecclesiarum sobre as Igrejas orientais católicas.
OT – Decreto Optatam Totius sobre a formação sacerdotal.
PC – Decreto Perfectae Caritatis sobre a conveniente renovação da vida religiosa.
PO – Decreto Presbyterorum Ordinis sobre o ministério e vida dos presbíteros.
UR- Decreto  Unitatis Redintegratio sobre o ecumenismo.
Declarações
DH – Declaração Dignitatis Humanae  sobre a liberdade religiosa.
GE – Declaração Gravissimum Educationis sobre a Educação cristã.
NA – Declaração  Nostra Aetate sobre as relações da Igreja com as religiões não cristãs
IMPORTÂNCIA DO CONCILIO VATICANO II
“Na história dos Concílios, ele reveste uma fisionomia muito singular. Nos Concílios precedentes, com efeito, o tema e a ocasião da celebração tinham sido dados por particulares problemas doutrinais ou pastorais. O Concílio Ecumênico Vaticano II quis ser um momento de reflexão global da Igreja sobre si mesma e sobre as suas relações com o mundo. A essa reflexão impelia-a a necessidade de uma fidelidade cada vez maior ao seu Senhor. Mas o impulso vinha também das grandes mudanças do mundo contemporâneo, que, como “sinais dos tempos”, exigiam ser decifradas à luz da Palavra de Deus. Foi mérito de João XXIII não só ter convocado o Concílio, mas também ter-lhe dado o tom da esperança, tomando as distâncias dos “profetas de desventura” e confirmando a própria e indômita confiança na ação de Deus.
Graças ao sopro do Espírito Santo, o Concílio lançou as bases de uma nova primavera da Igreja. Ele não marcou a ruptura com o passado, mas soube valorizar o patrimônio da inteira tradição eclesial, para orientar os fiéis na resposta aos desafios da nossa época.
À distância de trinta anos, é mais do que nunca necessário retornar àquele momento de graça. Como pedi na Carta Apostólica “Tertio milennio adveniente” (n.36) entre os pontos de um irrenunciável exame de consciência, que deve envolver todas as componentes da Igreja, não pode deixar de haver a pergunta: quanto da mensagem conciliar passou para a vida, as instituições e o estilo da Igreja? Já no Sínodo dos Bispos de 1985 (sobre o Concílio) foi posto um análogo interrogativo. Ele continua válido ainda hoje, e obriga antes de mais a reler o Concílio, para dele recolher integralmente as indicações e assimilar o seu espírito… A história testemunha que os Concílios tiveram necessidade de tempo para produzir os seus frutos. Contudo, muito depende de nós, com a ajuda da graça de Deus. “ Papa João PauloII (L’Osservatore Romano, 15/10/95)

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