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sábado, 4 de maio de 2013

A IGREJA CATÓLICA NO BRASIL ESTÁ EM FESTA: 

NHÁ CHICA É A NOVA BEATA NO BRASIL

A SINHÁ DO AMOR


Maio de 2013. Baependi está em festa e as bandeirinhas amarelas anunciam: Nhá Chica agora é uma Bem-Aventurada!


Analfabeta, negra, filha de mãe solteira e neta de escravos. Para quem não conhece, eis Francisca de Paula de Jesus, ou melhor, Nhá Chica, a mais nova Bem-Aventurada da Igreja Católica: sua beatificação está confirmada para 4 de maio na mesma Baependi (MG) que a recebeu ainda menina junto com a mãe Isabel Maria, ex-escrava, e o irmão Teotônio. Ali, a família foi morar em uma pequena casa localizada na hoje chamada Rua da Conceição e logo depois, em 1818, sofreria um golpe: as crianças ficaram órfãs. Sem maiores recursos, Francisca e Teotônio simplesmente foram entregues aos cuidados de Deus e da Virgem Maria. Ainda assim se criaram. Sinhá, como Francisca chamava Nossa Senhora – e como também os escravos se referiam aos seus senhores –, conquistou o coração da menina, que, seguindo os conselhos da mãe, cresceu em uma vida de oração, caridade e total entrega a Deus. Casta, jamais se casou. Faleceu em 1895, já sob uma grande fama de santidade. Era conhecida como a Santa de Baependi.
“A vida de Nhá Chica foi marcada pelas profundas delicadezas de Deus. Quando ela se instalou aqui em Baependi já trazia no coração uma profunda devoção à Virgem Maria, oriunda da fé de sua mãe. Nhá Chica se colocou inteiramente à disposição da graça de Deus para o serviço da evangelização e se consagrou a partir de si mesma, sem nenhum voto eclesiástico ou voto público canonicamente falando”, testemunha o padre José Douglas Baroni, pároco do Santuário da Imaculada Conceição de Baependi. O fato de ser analfabeta e não saber ler as Escrituras Sagradas também não chegava a ser um empecilho para sua profissão de fé. Perto de Francisca havia sempre alguém disposto a ler os textos bíblicos.

Conselheira – A fama da Santa de Baependi espalhava-se. Os doentes a procuravam em busca de cura, e a demanda popular em busca de orações e conselhos de todos os tipos, até para a realização de negócios, crescia. Pessoas de longe vinham a Baependi. Para todos, pobres e ricos, havia uma palavra de conforto, um conselho ou uma oração. E sua rotina nunca mudava: ao interceder por alguém, recorria à sua Sinhá. Nhá Chica somente se recolhia às sextas-feiras, quando lavava as próprias roupas e se dedicava à oração e à penitência, recordando a Paixão e a Morte de Jesus Cristo. Às 3 horas da tarde, intensificava as preces, lembrando a hora da agonia de Jesus. Nem por isso se reconhecia especial: “Não sou santa, mas uma pobre analfabeta, eu rezo, e Deus pelos merecimentos de sua divina Mãe, Maria Santíssima me atende”, dizia. 

Segundo dom Diamantino Prata de Carvalho, bispo de Campanha (MG), a humildade e a disponibilidade em atender as pessoas eram marcas da Bem-Aventurada.“Nhá Chica foi consagrada a Deus e ao próximo e, experimentando a orfandade e a falta de amor, foi capaz de testemunhar esse amor profundo de Deus para conosco. Da mesma forma, ela orientava as pessoas. Nhá Chica aconselhava o próximo a viver a dignidade de filhos e filhas de Deus”, testemunha. 

Sonhos – Uma noite, segundo relatos, Nhá Chica sonhou com a Imaculada Conceição. No sonho, Nossa Senhora pedia que a Santa de Baependi construísse uma capela em sua honra. Após esmolar por mais de 30 anos, conseguiu realizar o pedido de sua Sinhá e construiu uma igrejinha ao lado de sua casa. Ali, venerava uma pequena imagem de Nossa Senhora da Conceição herdada da mãe. “Ela sonhou também que a Virgem Maria lhe pedia um órgão de fole francês para a capela. Um padre, no entanto, explicou a Nhá Chica que se tratava, na época, de um instrumento musical muito caro. “Mas se a Sinhá quer, vou comprar”, teria respondido. “Então ela pediu esmolas até conseguir o valor”, relata Yolanda Aparecida Fernandes, membro do Conselho de Comunicação da Associação Beneficente de Nhá Chica (ABNC).

O sonhado órgão foi comprado em Barra do Piraí (RJ) e, a bordo de trem e de carroça, chegou a Baependi. Instalado no presbitério, no entanto, uma decepção. Ele não funcionou! Mas Nhá Chica não era mulher de desistir: ajoelhou-se diante do altar, rezou para a Sinhá e esta lhe prometeu que o instrumento haveria de tocar às 15 horas de sexta-feira, a hora da agonia de Jesus. É claro que na data e hora marcada, com a capela lotada, não deu outra: os acordes musicais do órgão encheram o ar.

Profecias – “Sua fama chegou à corte do Império, no Rio de Janeiro (RJ), a ponto de um conhecido conselheiro, João Pedreira do Couto Ferraz, secretário do Supremo Tribunal, levar à sua presença a filha Zélia Ferraz para esta receber algumas orações antes de ser conduzida a um convento na Europa. Nhá Chica rezou e disse ao conselheiro que a filha, primeiramente, iria se casar, ter muitos filhos e que estes seriam consagrados a Deus. Somente no final de sua vida, Zélia seria de Deus”, diz Yolanda. A profecia se cumpriu. Zélia casou, teve dez filhos e, destes, cinco mulheres ingressaram na vida religiosa e três homens se tornaram sacerdotes. Após enviuvar, com 60 anos, ela foi admitida na Congregação das Irmãs Servas do Santíssimo Sacramento, com o nome de irmã Maria do Santíssimo Sacramento.

Ao falecer, em 14 de junho de 1895, com 87 anos, Nhá Chica foi velada na capela que construiu, onde foi sepultada quatro dias depois. Segundo relatos, pessoas que compareceram ao velório sentiam um misterioso perfume de rosas que exalava de seu corpo. O mesmo perfume foi novamente sentido em 18 de junho de 1998, 103 anos depois, por autoridades eclesiásticas e membros do Tribunal Eclesiástico pela Causa de Beatificação de Nhá Chica e pelos pedreiros que trabalhavam na exumação do seu corpo. Hoje, os restos mortais da beata encontram-se no interior do Santuário Nossa Senhora da Conceição, em Baependi, protegidos por uma urna de acrílico colocada no interior de outra, de granito. A pequena casa onde Nhá Chica viveu é zelada há 59 anos pelas Irmãs Franciscanas do Senhor, que criaram a Associação Beneficente Nhá Chica. Ali também há, em exposição, um memorial com objetos pessoais e documentos sobre a Bem-Aventurada.

Inserido por: Família Cristã






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